Diários vazados mostram bastidores do início da crise que levou à queda da FTX

Por 26/07/2023
26/07/2023


O caso da corretora cripto FTX, que foi a falência em novembro do último ano deixando investidores com um prejuízo bilionário, ganhou um novo capítulo com diários vazados de uma das executivas. Caroline Ellison era CEO da Alameda Research, empresa do grupo, e namorada de Sam Bankman-Fried, CEO da FTX.

Nos documentos, ela desabafa sobre problemas em seu relacionamento com Bankman-Fried e dificuldades da liderança na Alameda Research que agora podem influenciar os rumos dos julgamentos em relação ao caso.

A corretora era a terceira maior do mundo em valor de mercado e foi a falência em menos de uma semana, após dados vazados mostrarem que os executivos da empresa usavam o dinheiro de clientes de forma inadequada em alavancagem e até mesmo para benefício próprio, como a compra de mansões nas Bahamas e viagens.

Os arquivos do Google Docs vazados na última semana eram usados por Ellison como uma espécie de diário, segundo o The New York Times, que teve acesso aos registros. Anteriormente, publicações da ex-executiva nas redes sociais já a envolveram em polêmicas.

Peça-chave em julgamento
Atualmente, Caroline Ellison pode ser uma das principais testemunhas do caso contra Sam Bankman-Fried, após confessar a culpa de suas acusações. A ex-namorada de Bankman-Fried escrevia em seu diário sobre as dificuldades em liderar a empresa e sua relação amorosa com o então CEO da FTX.

“Tenho me sentido muito infeliz e sobrecarregada com meu trabalho”, escreveu Ellison em fevereiro de 2022. “No final do dia, mal posso esperar para ir para casa, desligar o telefone, tomar um drink e ficar longe de tudo.”
“Liderar a Alameda não parece algo em que eu tenha uma vantagem comparativa ou seja adequada para fazer”, acrescentou ela em outro documento.

Segundo o The New York Times, durante um período turbulento no relacionamento, Bankman-Fried teria se afastado de Ellison e também da Alameda Research. O ex-bilionário considerou fechar a empresa e investiu mais de US$ 400 milhões na Modulo Capital, comandada por uma outra ex-namorada que também conheceu quando trabalhou na Jane Street, onde se conectou com Caroline Ellison.

Em um documento do Google de abril de 2022, Ellison escreveu que um rompimento anterior com Bankman-Fried “diminuiu significativamente minha empolgação com a Alameda”. Para ela, a vida na Alameda “parecia muito associada a você [Bankman-Fried] de uma forma que era dolorosa”.

Ela também disse que não queria “tornar as coisas estranhas” e “causar drama” por sua relação com Bankman-Fried.
Ellison ainda recebeu um valor consideravelmente menor do que os outros executivos homens envolvidos com a FTX, segundo o The New York Times.

Nomes importantes da FTX chegaram a receber US$ 3,2 bilhões em pagamentos e empréstimos. Desse valor, US$ 6 milhões foram para Ellison, US$ 587 milhões para Nishad Singh, chefe de engenharia da FTX, e US$ 246 milhões para Gary Wang, um dos fundadores. Sozinho, Bankman-Fried ficou com US$ 2,2 bilhões.

Bankman-Fried pode ser culpado por vazamento
Caroline Ellison é uma peça-chave para o julgamento de Sam Bankman-Fried, agendado para o dia 2 de outubro. Pensando nisso, promotores do Departamento de Justiça dos Estados Unidos acusam o ex-namorado de ter vazado propositalmente os documentos, na tentativa de desclassificá-la como testemunha e qualificar Ellison como uma “amante rejeitada que perpetrou” os supostos crimes da FTX por conta própria.

O procurador Damian Williams solicitou uma ordem impedindo Bankman-Fried de fazer declarações extrajudiciais é necessária porque “ao compartilhar seletivamente certos documentos privados com o New York Times , o réu está tentando desacreditar uma testemunha, colocar Ellison sob uma luz ruim e avançar sua defesa através da imprensa e fora das restrições do tribunal e das regras de evidência: que Ellison era um amante rejeitado que cometeu esses crimes sozinho”.

Ainda segundo os promotores, os advogados de Sam Bankman-Fried confirmaram que o ex-CEO da FTX teve uma reunião pessoal com um dos autores durante a qual foram compartilhados documentos adicionais não divulgados anteriormente ao governo.


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