O que as criptos, o Real Digital e os tokens utilizados atualmente pelos bancos têm em comum?

Por 29/08/2022
29/08/2022


O mundo das criptomoedas pode ser deslumbrante, mas as moedas digitais do banco central estão se tornando cada vez mais importantes. De fato, a maior parte da moeda emitida pelos bancos centrais já é digital, embora não sejam chamadas de CBDC (sigla para Central Bank Digital Currency). O que pode mudar no futuro é até que ponto, partes elegíveis terão acesso ao balanço do banco central.

Durante seu depoimento, o presidente do Federal Reserve dos EUA, Jerome Powell, considerou importante o lançamento do dólar digital e que este teria ramificações decisivas para o sistema global de pagamentos digitais e os mercados financeiros.

O projeto de euro digital do Banco Central Europeu se concentra em uma CBDC de varejo, que cria a possibilidade de indivíduos usarem o dinheiro do banco central como se fosse uma moeda digital. Diferentemente de uma CBDC de atacado que seria limitada a um grupo de entidades financeiras com um amplo caráter comercial, a CBDC de varejo acessível a todos seria um divisor de águas. Se as tendências atuais continuarem os bancos centrais podem achar interessante acelerar a construção da infraestrutura digital de varejo da CBDC.

Já no Brasil, está em andamento o projeto do Real Digital que, como afirmou o atual presidente do BC Campos Neto, a CBDC nacional será uma versão digital da moeda nacional o REAL e, portanto terá seu valor com base no STR (Sistema de Transferência de Reservas) que é o sistema central do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), responsável pela transferência de fundos com liquidação bruta em tempo real (LBTR). Para utilizar o STR, é necessário que a instituição financeira tenha conta no BCB, ou seja, somente os bancos e fintechs cadastrados no sistema vão conseguir emitir stablecoins em cima dos seus depósitos. Ainda segundo o presidente, seu lançamento será uma versão piloto e não estará disponível para toda a população do país.

Já a China assumiu uma posição de destaque no lançamento de uma moeda digital. Para outros bancos centrais, isso representa um dilema. A popularização do yuan digital pode ser favorável para a futura globalização da moeda chinesa nos mercados de capitais. A China pode lançar zonas piloto de yuan digital com seus parceiros comerciais, o que, por sua vez, pode ajudar a elevar o status do yuan como moeda de liquidação global. O e-CNY, como a moeda digital é oficialmente conhecida, pode incentivar empresas de mercados emergentes e governos a se optarem por moedas diferentes do dólar para financiamento externo.

Se a China priorizar economias com as quais tem acordos comerciais para projetos piloto de yuan digital, como membros da Parceria Econômica Abrangente Regional ou países com os quais tem acordos de livre comércio, o e-CNY se torna subitamente um concorrente feroz do dólar americano. O e-CNY pode ser usado inicialmente para consumo e circular em áreas comerciais designadas que se enquadrem na política externa da China, com controles para preservar a estabilidade financeira.

Por exemplo, poderia circular dentro da área da Grande Baía da China e zonas de livre comércio, depois no exterior em centros de liquidação de yuans offshore e economias da Iniciativa Cinturão e Estrada. Uma moeda digital que circula principalmente dentro de um país, mas cruza fronteiras no comércio diário, dará à China uma vantagem crucial sobre o dólar.

O escopo da globalização de um yuan digital como moeda de reserva da próxima geração é significativo. Esta não é apenas a primeira aplicação comercial em larga escala da moeda digital do banco central, mas também pode servir de exemplo para outros bancos centrais e suas moedas. O lançamento demonstrou como a nova tecnologia pode ser usada para facilitar a circulação de moedas tradicionais.

Em artigos separados, o Fed de St. Louis e o Fed de Nova York publicaram análises sobre moedas digitais de bancos centrais. Em seu blog Liberty Street Economics, os economistas do Fed de Nova York concluíram que, ao não emitir um CBDC, um banco central poderia arriscar seu papel de fornecer dinheiro ao público à medida que o setor privado desenvolve um sistema de pagamento digital. Economistas de St. Louis observaram que a pesquisa da CBDC está centrada em tecnologia de varejo, como os aplicativos de carteira privada Apple Pay e Google Pay.

Até 2023, o Federal Reserve planeja lançar o FedNow, um sistema de pagamento instantâneo de varejo, e atualizar o sistema de pagamento bancário de dois níveis existente para compensação e liquidação 24 horas por dia, 7 dias por semana.

Economistas do Fed de St. Louis também observam que a expansão da China em pagamentos digitais contraria a tendência em outros países porque seu setor financeiro implementou rapidamente tecnologias de pagamento digital com o apoio do governo chinês.

Os EUA e outras economias desenvolvidas ainda estão muito atrás da China, onde as transações privadas de pagamentos móveis, como AliPay e WeChat Pay, totalizaram US$ 35 trilhões para mais de 1,2 bilhão de usuários em 2019, segundo o Fed de St. Louis. É por isso que o Federal Reserve, o BCE e outros grandes bancos centrais provavelmente acelerarão o desenvolvimento de CBDCs de varejo.

Para o futuro previsível, o dólar provavelmente continuará sendo a principal moeda de reserva devido ao seu uso para comércio, liquidação e dívida externa. Também é fundamental para o financiamento de instituições globais, como o Fundo Monetário Internacional e as Nações Unidas. Os controles dos EUA sobre o acesso aos mercados de dólar também o tornam uma fonte atraente de financiamento, mesmo em tempos de crise, especialmente devido aos recentes problemas de liquidez.

A China está à frente no digital e ainda um pouco atrasada em sua popularidade como moeda de reserva, mas ainda assim o e-CNY é um evento chave para o sistema financeiro global. De qualquer maneira, a moeda digital da China pode ser uma grande ruptura para o sistema financeiro global, haverá uma corrida para que bancos centrais possam começar a introduzir suas próprias moedas digitais, e quem investiu cedo em tecnologia e regulamentação sairá na frente.

Fonte: exame

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