Um ano após a Lei Bitcoin, como vai a moeda em El Salvador?

Por 29/12/2022
29/12/2022


A Lei Bitcoin, que transformou o bitcoin em moeda oficial do país americano, entrou em vigor no dia 7 de setembro do ano passado. Passado pouco mais de um ano, será que suas promessas se sustentaram?

A lei almejava promover a inclusão financeira dos salvadorenhos. Segundo sua própria redação, 70% deles não tinham acesso a serviços financeiros tradicionais. Porém, problemas como a péssima qualidade da carteira estatal Chivo, o colapso da cotação do bitcoin poucos meses após sua entrada em vigor e a imposição legal do bitcoin sem levar em conta a necessidade de educar a população sobre a criptomoeda dificultaram esse objetivo.

Uma coisa não pode ser negada: Nayib Bukele é um grande marketeiro. O presidente salvadorenho, de apenas 41 anos, gosta de falar ao público com roupas casuais e boné virado para trás. Ele prometeu a criação da Bitcoin City, uma cidade planejada temática sobre o Bitcoin que contará com alíquota zero para diversos tributos, financiada por “Volcano Bonds”, títulos públicos que remunerariam seus investidores com dólares e bitcoins (comprados e minerados a partir da energia geotérmica de um vulcão). 

Porém, será que o marketing megalomaníaco e egocêntrico do presidente conseguiu trazer resultados concretos para o país?

Surpreendentemente, parece que sim. Segundo Morena Valdez, ministra do Turismo, o número de pessoas chegando ao país e gastando mais nele havia aumentado em 30% desde a adoção do BTC, provavelmente graças à ajuda dos diversos eventos de Bitcoin que estão sendo realizados no país, como o Adopting Bitcoin. O PIB de El Salvador cresceu 10,8% em 2021. Stacy Herbert e Max Keiser, um casal de early adopters bastante popular na comunidade bitcoiner, se mudaram para o país e não param de incentivar que outros façam o mesmo. Mas será que a população está realmente utilizando bitcoin no dia a dia?

E é aí, onde realmente importa, que a situação não é das melhores. Segundo Joseph Hall, jornalista do Cointelegraph, a experiência salvadorenha com Bitcoin varia muito. Enquanto multinacionais como a McDonalds oferecem suporte intuitivo a bitcoin onchain e Lightning, outras, como a Wallmart, só permitem que estrangeiros paguem através de bitcoin onchain, e a Texaco simplesmente não aceita bitcoin, o que é ilegal no país.

Ainda sobre onchain e Lightning, ele informa que poucos salvadorenhos conseguem fazer essa distinção. O que deveria ter sido amplamente ensinado pelo governo antes de tornar a aceitação de bitcoin obrigatória no país ainda é motivo de confusão, mais de um ano depois. Aliás, entre o anúncio da ideia e a aprovação da lei se passaram apenas 3 dias (!), tendo a lei entrado em vigência após apenas 90 dias de sua publicação.

Isso seria um escândalo para qualquer país democrático, mas não é como se Bukele fosse um dos maiores entusiastas desse regime político. Poucos meses antes, em maio de 2021, 5 magistrados da Suprema Corte do país haviam sido removidos de seus cargos pelo Parlamento, dominado pelo partido do presidente. Agora, em 2022, ele anunciou que planeja concorrer à reeleição, algo que é constitucionalmente proibido no país e cuja proibição ele defendia veementemente no passado, mas não é como se isso fosse um problema quando se tem uma Suprema Corte aparelhada.

Pequenas coisas

É importante que nos recordemos de como tudo começou em El Salvador. Não foi através de canetadas de políticos autoritários no auge do preço do ativo, mas a partir de um projeto social num pequeno vilarejo no interior do país: Bitcoin Beach, em El Zonte. Essa pequena iniciativa, que começou no bear market de 2019, ajudou moradores a resolverem problemas concretos através do Bitcoin. Graças a muitas aulas, incentivos, workshops e muito mais, a população local não precisa mais pegar horas de ônibus e filas para pagar por contas de luz, água e telefonia, por exemplo.

É justamente através dessas pequenas coisas que o Bitcoin pode crescer organicamente num país. Desde setembro do ano passado, a ONG Mi Primer Bitcoin oferece aulas gratuitas sobre Bitcoin para a população local, com direito até a certificados. Através de parcerias com escolas, financiamento de grandes corretoras e crowdfunding, a iniciativa conseguiu lecionar para 400 alunos em 2021, mais de 10.000 alunos em 2022 e planeja atingir mais de 250.000 alunos em 2023.

Para que o sonho de um país hiperbitcoinizado possa se concretizar, é indispensável que práticas como essa tornem-se mainstream. Apenas um trabalho de baixo para cima, preocupado com as necessidades concretas dos cidadãos e atento para suas dificuldades poderá realizar o ideal de um dinheiro verdadeiramente livre.

Fonte: cointimes

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